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Crônicas de Sangue * O Diário de uma Caçadora

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Mensagem por Priscy 18/5/2013, 00:17

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Mensagem por Priscy 18/5/2013, 00:50

Olá Convidado, esse é o meu diário.
Se você está lendo, ou é um dos meus poucos melhores amigos, ou você o está lendo sem autorização.
E se por um acaso for a segunda opção, saiba que eu o caçarei por profanar a minha intimidade.
...
A não ser, é claro, se eu já estiver morta...
De qualquer forma, se eu voltar a vida eu te caçarei.
Enfim, sei que esse aviso não vai adiantar budega nenhuma, então aproveite a leitura... Enquanto pode.
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Mensagem por Priscy 18/5/2013, 01:15

31 de Outubro de 2009

Halloween um dia de festa e alegria, onde os pequenos vestem-se de monstrinhos e saem a pedir doces ou praticar travessuras. Mas também é um dia onde o véu entre os planos está mais fino, possibilitando que as almas das pessoas mortas e que não quiseram, ou não podem descansar, apareçam causando terror.

Soltei uma gargalhada ao ouvir Ana Clara dizer isso. Era Halloween, e ela, que era uma pessoa muito sensível, acreditava nessas baboseiras. Eu não sou uma pessoa cética, veja bem, na verdade sou propensa a acreditar em qualquer coisa, desde Deus a Saci-Pererê, mas eu tenho que ver para crer, entende? Ou pelo menos ter alguma prova.


Balancei a cabeça limpando algumas lágrimas, enquanto ela me olhava fazendo um biquinho mal-humorado. Ri ainda mais com isso, tínhamos todos 18 anos, mas algumas vezes ela agia como criança. Jonathan, que preferia manter-se neutro quando eu e Ana discutíamos sobre algo, não se aguentou e também soltou uma gargalhada.


— Olha só! Ela está emburradinha! – disse ele passando o dedo no bico dela, que logo se desfez dando lugar a uma risada que ela não conseguiu segurar.


Ana Clara e Jonathan eram uns de meus poucos amigos, eu os conhecia desde criança e eles eram como irmãos para mim. Naquele dia, estávamos voltando a pé da faculdade, já era umas 6 horas da noite e andávamos por uma rua deserta e com poucas casas.


Aos poucos, enquanto caminhávamos pela calçada a direita, fomos parando com as brincadeiras e ficando em silêncio. Já tínhamos passado muitas vezes por aquela rua de dia, mas de noite ela tinha um ar sobrenatural, parecia que havia uma regra não dita que deveríamos ficar em silêncio, e que se fizéssemos barulho algum ser desconhecido apareceria. Balancei a cabeça espantando os pensamentos e escutei Jonathan dar uma risada. Ana e eu o olhamos.


— Está silencioso por aqui, né? – disse ele tentando quebrar a tensão – Parece até um daqueles filmes trashes, onde o grupinho de aborrescentes entra numa casa assombrada e são surpreendidos por um monstro malévolo e sanguinário. – disse ele sorrindo travesso e olhando para Ana, que claramente era a mais medrosa dali. Ela tentou sorrir tentando mostrar que não estava nervosa, mas isso não funcionou. Balancei a cabeça pra Jon, para ele parar de assustar Ana e ele fingiu não perceber.


— Só falta arranjarmos uma casa assombrada... Que tal aquela? – disse ele apontando para uma casa abandonada metros a frente, num terreno com mato crescido e cheio de tralhas. Olhei feio para Jon e ele levantou os braços como quem se dá por vencido. – Tá bom, tá bom, já parei. Desculpa Ana, é só brincadeira.


Depois disso, caímos num silêncio e apressamos o passo. Estávamos passando em frente da casa apontada por Jonathan, e teríamos seguido assim se eu não tivesse escutado um som lá de dentro. Parei a mesma hora e olhei por cima do pequeno portão de ferro, encostando-me no mesmo e tentando ouvir, porém o som não se repetiu. Ana e John que já estavam alguns passos à frente voltaram me lançando olhares indagadores.





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Mensagem por Priscy 18/5/2013, 01:25

—O que f... – Ana já ia perguntando, quando ouvimos um som de algo espatifando no chão e vinha de dentro da casa. Ela engasgou e olhou de mim para Jon com olhos arregalados e depois para a construção – O que foi isso?


—Parece que alguém mora aí – disse Jon olhando as janelas parcialmente tampadas com a vegetação alta. Balancei o portão enferrujado e mexi nas correntes e no cadeado que o trancava.


—O que você vai fazer? – perguntou-me Jon


—Eu quero entrar.


—Você é louca?! – disse Ana – Vai que... Vai que tem...


—... Um monstro?! – completei por ela e fiz uma careta. – Tá de brincadeira com a minha cara? Só falta me dizer que vampiros existem e eles brilham no sol. – disse com certo sarcasmo. Ela estava fissurada com esse negócio de monstros, e apesar de não gostar das brincadeiras que Jonathan fazia, isso já estava me dando nos nervos, e olha que eu sou uma pessoa calma.


Jonathan, que sabiamente não se metia em nossas discussões (a não ser que a coisa ficasse feia), já estava pulando o portão.


— Vocês não vêm? – ele falou animado. Ele era o que sempre topava alguma maluquice. Sem responder, ajeitei minha mochila nas costas e também saltei o portão. Já do outro lado, olhei para Ana que ficara paralisada na calçada. Ergui uma sobrancelha para ela, que logo se resolveu e também pulou o portão. Acredito que por medo de ficar sozinha naquela rua.


Seguimos curvados e em fila indiana, desviando das tralhas espalhadas no quintal, do mato e fazendo o menor barulho possível. Logo chegamos à frente da casa, que em outros tempos seria luxuosa, mas que naquele momento estava em frangalhos. Esgueiramo—nos pela parede até uma janela e tive que sufocar um grito quando um rato correu pelos meus pés, saído de um buraco na parede.


—Shhh – fez Jon pedindo silêncio, enquanto olhava pela janela quebrada. Fiquei na sua direita para espiar e Ana ficou em sua esquerda.


Quando bati os olhos no homem lá dentro, não achei nada de mais: era um homem de traços asiáticos, vestia uma camiseta branca e calça jeans. Troquei um olhar cúmplice com Ana, ela sabia que eu gostava de asiáticos (eles são tão fofos). Ele tinha derrubado algo no chão, era um prato, dava para ver por causa do caco que ele tinha em mãos. Ele nem fez menção de limpar o chão, pelo contrario, jogou o caco por cima do e foi sentar numa cadeira.


— Esse cara é pior do que eu! – murmurou Jon, ao que eu e Ana sufocamos algumas risadinhas e voltamos a espiar.


O homem estava lendo uma revista pornográfica, dava para ver a capa daquela distância.





02


Última edição por Priscy em 18/5/2013, 01:34, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Título errado)
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Mensagem por Priscy 18/5/2013, 01:42

— Esse é dos meus. Será que é da Play Boy? – sussurrou Jon novamente e eu dei um leve soco no seu ombro.


Já ia sugerir para irmos embora, quando algo naquela cena capturou minha atenção. O homem estava olhando fixamente para a revista, até aí tudo bem. O problema era que parte de seu rosto estava se desfazendo. Fiquei olhando aquilo boquiaberta e horrorizada, provavelmente Jon e Ana estariam do mesmo jeito, principalmente Ana.


Com o coração martelando dentro do peito, vi o homem se levantar largando a revista no chão e levando as mãos até o rosto e cabelo e começando a puxar. As peles tanto do rosto quanto dos braços cediam facilmente, e caíam em partes molengas no chão, com um som asqueroso. Eu estava hipnotizada com aquilo, pois de baixo da pele de asiático, agora surgia o rosto de uma mulher, e era a mesma mulher da capa da revista. Senti alguém me balançar e olhei para o lado, era Jon.


— Vamos embora daqui. – disse ele com o rosto pálido. Eu assenti e me virava para ir embora, porém, Ana que era o tipo de pessoa que se enjoava por qualquer coisa, começou a vomitar e acabamos sendo percebidos pelo monstro, que sem terminar a sua transformação, virou-se surpreso para a janela onde estávamos.

Enquanto Ana Clara colocava os bofes para fora eu fiquei paralisada, o ser, que agora não dava para saber de que gênero realmente era, me encarava com seus olhos brilhantes e apesar de seu corpo e rosto ainda estar caindo pedaços dava para ver e sentir a raiva e a vontade de matar.


Jonathan, que tinha mais presença de espírito, puxou Ana pelo braço e me empurrou enquanto gritava – Anda, corre! Temos que sair daqui!


Ergui-me completamente, já não fazia sentido andar encurvada, e corri pelo quintal afastando o mato do rosto e pulando por cima de algumas latas. Meu coração parecia martelar minhas costelas e eu forçava eu pensamento para uma única coisa: Fugir dali





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Mensagem por Priscy 18/5/2013, 14:59

Desesperada, subi no portão e meu pé acabou agarrando, fazendo com que eu caísse na calçada. Ainda no chão, olhei para trás e vi Jon alcançando o portão... mas onde Ana estava? Varri o quintal com os olhos, e a vi caída no chão. Pelo que dava para enxergar naquela distância e naquela escuridão, parecia que ela tinha tropeçado num pneu velho. Ela estava colocando as duas mãos no chão para fazer impulso e se levantar quando sentiu que havia alguém atrás de si. De onde eu estava eu só via um vulto parcialmente escondido.


Ela não se virou para ver, ficou apenas me encarando com aqueles olhos verdes arregalados e cheios de medo. Gritei para Jon, que agora saltava o portão e não tinha visto o que se desenrolava atrás dele, mas era tarde demais. Na hora em que ele virou o rosto para ver, Ana foi puxada pelas pernas, ela ainda tentou se agarrar no pneu que tropeçara, mas não adiantou. A última coisa que eu vi foi sua mão estendida na minha direção.


Me levantei e me agarrei no portão, pronta para pular de volta e salvar minha amiga, mas Jon me puxou pela cintura. Comecei a bater nele, eu tinha que salvar minha amiga, ela foi pega por minha causa. Eu dizia isso para ele, mas a única coisa que ele fazia era me puxar para fora dali. Ele não me soltaria, e como me sentia perdida simplesmente aceitei. E com lágrimas nos olhos, corri de mãos dadas com ele.

Fomos para casa dele, seus pais não estavam e passamos a noite discutindo o que vimos e o que iríamos fazer. Eu chorei muito, estava me sentindo culpada e não só isso, sentia que tinha traído Ana, deixando-a para trás. Não me lembro exatamente o que conversamos, mas resolvemos que retornaríamos para aquela casa e resgataríamos Ana, e para isso iríamos armados até os dentes. Eu fui dormir chorando e as últimas coisas em que pensei, foram os olhos brilhantes daquele ser e os olhos arregalados de Ana Clara.






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Mensagem por Priscy 19/5/2013, 16:59

32 de Outubro de 2009

Pensei que não conseguiria dormir, mas ao contrário do que imaginei, eu dormi bem até demais, tanto, que pensei que o que tinha acontecido no dia anterior, era apenas um pesadelo. Sentei na cama e vi que não era o meu quarto, pelos actions figures, posters de banda de rock, e um bolo de roupas jogado num canto, percebi que estava no quarto de Jonathan. “Ah, sim...” pensei me lembrando do dia anterior e uma tristeza abateu minha alma. Jon tinha falado para eu dormir na cama dele e ele dormiria no chão, era mais seguro ficarmos juntos. Olhei para o chão e só encontrei o colchonete. Onde Jon tinha se metido?


Como se estivesse lendo minha mente, ele apareceu na porta. - Até que enfim você acordou – sua voz não era animada, nem triste, só denotava certa raiva, mas não de mim. Olhei para a sacola que ele tinha em mãos com um olhar curioso. Ele sentou ao meu lado e abriu me mostrando.


- São... armas – falei não tão surpresa como estaria se fosse em outros dias. Ele assentiu com a cabeça explicando que eram do pai e me deu uma aula básica.


Era 5:30 da manhã e estávamos saindo da casa, numa mochila não carregávamos apenas as armas, como também alguns facões que pegamos na garagem.


Pegamos um ônibus e rapidamente chegamos à rua do dia anterior, agora na luz do dia ela não parecia tão assustadora. Caminhamos rapidamente pela calçada e logo chegamos à frente da casa. Trocamos um olhar, tínhamos concordado que o ser não merecia misericórdia, e o nosso plano era entrar arrebentando. Só agora percebo o quanto aquele plano era idiota, o ser poderia usar Ana como refém, escudo... Enfim, eu e Jon pulamos o portão e corremos para a porta da casa, ficamos em silêncio para poder escutar qualquer barulho de dentro, mas estava tudo silencioso. Jon acenou para mim, e tomando uma certa distância, meteu o pé na porta derrubando na primeira investida.


Com uma das pistolas erguidas, ele entrou na casa e eu o segui com certo receio do que poderia encontrar. A arma tremia em minhas mãos e meu estomago parecia revirar. A sala era grande, e estava uma bagunça. A esquerda tinha uma mesa e uma cadeira, no chão perto delas estava a revista pornográfica, os cacos do prato quebrado e um montinho nojento de peles e cabelos. Ignoramos aquilo e seguimos pelo corredor a direita, para checar os outros cômodos.





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